
A rotina é uma das principais causas de angústia nos relacionamentos amorosos que pode resultar no seu fim,
A maioria dos relacionamentos amorosos iniciam com paixão. Dependendo das características pessoais de personalidade dos dois envolvidos, dos hábitos do casal, das suas expectativas em relação aos relacionamentos amorosos, do seu histórico amoroso e das suas profissões, a rotina pode demorar meses ou anos a instalar-se num relacionamento. Porém, cedo ou tarde, esse assassino silencioso instala-se no lar do relacionamento e começa a dar as caras.
A rotina não escolhe idades dos intervenientes de um relacionamento. Nos meus atendimentos com Cura Ascensional, já vi casos em que a rotina se instalou entre uma mulher de 42 anos e um homem de 27 anos ao fim de 4 anos de relacionamento, entre um casal em que ambos tinham 35 anos e estavam juntos desde os 23 anos, entre um casal nos seus 43 anos que estavam juntos num relacionamento com 20 anos, num casal de namorados cujo relacionamento já durava 3 anos em que o homem tinha 33 anos e a parceira 35 anos, e ainda um outro, em que o relacionamento já durava há 6 meses e o homem tinha 66 anos e a mulher 52 anos.
Como o leitor poderá constatar, quer haja diferença de idades significativa entre os elementos do casal o que sugere que estejam em fases diferentes das suas vidas, quer eles pertençam, sensivelmente, à mesma faixa etária não variando mais de 2 anos na sua diferença de idades, a rotina instala-se.
De igual forma, quer sejam jovens abaixo dos seus 35 anos, ou mais maduros (acima dos 50 anos), ou estejam na meia-idade (por volta dos 40 anos), a rotina surge. A rotina nos relacionamentos amorosos também aparece, independentemente de o casal se ter conhecido ainda jovem e nenhum dos elementos ter tido muitos parceiros românticos antes do actual, ou em pessoas mais vividas, que tiveram já vários relacionamentos amorosos antes do actual.
Por norma, dado que não existem duas pessoas com personalidades idênticas, um dos elementos do casal é mais tolerante à rotina que o outro. Muitas vezes, enquanto que um dos membros vê a rotina como um problema, o outro vê a rotina como algo inevitável e até natural.
O problema no relacionamento com a rotina começa, precisamente, quando um dos membros a vê como um problema, e passa a exigir do outro, medidas para a combater. Pode até tornar-se mais exigente e ameaçar terminar o relacionamento se o outro não conseguir resolver o problema.
Tipicamente, é a mulher que sente maior intolerância à rotina num relacionamento e que passa a exigir do companheiro, medidas que a façam sentir-se como ela se sentia no início do relacionamento. Essa cobrança constante pode tornar-se tão forte que começa, com o tempo, a prejudicar a estabilidade do relacionamento e, mais do que a própria rotina, é a cobrança constante que pode levar ao término do relacionamento.
É da natureza masculina procurar a estabilidade, para poder começar a focar-se em outras áreas onde o homem procura realização pessoal. O homem, tipicamente, quer sentir que essa parte da sua vida está resolvida, para poder passar a dedicar-se à parte profissional de uma forma mais integral.
Isso significa ter apoio da sua companheira. Apoio da sua companheira, do ponto de vista do homem, significa não ter de a ouvir a lamentar-se frequentemente de que a vida amorosa dos dois se tornou entediante, e que a responsabilidade é dele.
A companheira quer sentir as emoções fortes que o relacionamento lhe proporcionava no início, e das quais sente saudade.
Já o companheiro tem uma agenda diferente. Um homem, tipicamente, separa as partes de um sistema em caixinhas. E fá-lo com a própria vida também. Então, temos a caixinha da vida amorosa, a caixinha da vida profissional, a caixinha da vida familiar (pais, irmãos e filhos), a caixinha do relacionamento consigo mesmo (inclui processos de reflexão, espiritualidade e matérias conectadas com a consciência de si mesmo), a caixinha dos amigos e, finalmente, a caixinha dos hobbies. Afinal, tem que haver também espaço para diversão!
Um homem resolve um problema para não ter de voltar a pensar nele. É como se fosse um relatório de vendas do produto principal da empresa que o chefe pedíu para entregar na quarta-feira seguinte até às 16:00! Uma vez terminado, envia-se ao chefe e não se pensa mais nele. Tarefa concluída! Mais um ponto! «Podemos descansar um pouco até à próxima tarefa!»
Uma caixinha é apenas como mais um problema a ser resolvido. Sendo assim, atentemos na caixinha da vida amorosa. O homem seduz a mulher. Namora com ela. Eventualmente, casa ou vive junto com ela passado um período de tempo após se terem conhecido, e depois, já pode descansar, atirar a caixinha da vida amorosa para trás das costas, pois essa caixinha já está resolvida. Já não se tem de voltar a pensar nela, certo? Não, errado! O homem começa a descobrir que a sua companheira não vê a realidade do que significa estar num relacionamento sob a mesma perspectiva que ele, e essa descoberta vai trazer, inevitavelmente, imensos dissabores ao companheiro, cuja companheira se recusa a partilhar dessa visão simplificada.
Tipicamente, quando o homem pensava que bastava apenas conhecer uma mulher, iniciar um relacionamento amoroso com ela, oficializar o relacionamento, ter, ou não, um ou dois filhos para enfeitar o quadro, e esquecer-se da relação, para poder finalmente dedicar-se à vida profissional/financeira, de alma descansada, sabendo que se acontecer algum problema, a companheira estará lá para o apoiar emocionalmente e o ajudar a superar algum obstáculo que surja na sua vida (uma doença grave, a perda de prestígio profissional por demissão, diminuição das receitas da empresa, um escândalo social, o falecimento de um familiar, o mau relacionamento com um colega de trabalho, subordinado ou chefe, etc), ele passa a descobrir que se enganou totalmente!
Ele finalmente se apercebe que não percebeu o que esperavam de si! E quando se dá essa tomada de consciência, ele, tipicamente, refugia-se, quando confrontado pela companheira, no silêncio. Normalmente, quando questionado pela inquisidora companheira, que se assume com ares de superioridade moral, o que ele deseja fazer em relação ao problema da rotina amorosa, ele vê-se acuado que nem um gato num canto da sala, com medo do cão de guarda da família!
Essa questão não tem resposta fácil. A companheira acusa-o, sem dó, nem piedade:
- “Já não me dás atenção como no início…”
- “Não me dizes que estou bonita.”
- “Já não me beijas como antes. E quando beijas é porque eu te pedi. Não tomas a iniciativa.”
- “Não reparaste nas minhas unhas, no meu penteado novo, na minha roupa nova, no novo estilo que dei ao quarto, no meu perfume novo, no meu novo corte de cabelo, nas mudanças dos móveis da casa”
- “Sou eu que tenho de tomar a iniciativa sempre na relação”
- “Já não perguntas como eu estou, como eu me sinto. Quando perguntas, vê-se que só perguntas por obrigação, e não por interesse genuíno.”
- “Quando fazemos amor, não sinto amor mais da tua parte. Sinto que já só fazemos sexo.”
- “Há muitos anos que não saímos para sítios novos!”
- “És um acomodado!”
- “A nossa vida sentimental é um verdadeiro hino ao tédio.”
- “Não sei como aguentas fazer todos os dias a mesma coisa, comer os mesmos pratos, ir aos mesmos restaurantes, viajar aos mesmos locais, durante anos seguidos. Para mim, chega! Não dá mais!”
- “Somos como dois amigos a viver debaixo do mesmo tecto”
- “Se já não me amas, diz-me, eu aguento, sê sincero!”
- “Não és romântico! Não és carinhoso!”
- “És um homem trabalhador e fiel, mas não estou satisfeita… Preciso de mais.”
- “Tomaste-me por garantida… No início da relação, eras mais atencioso e fazias mais coisas por mim.”
O companheiro, tipicamente, algumas vezes, tenta ignorar fazendo zapping nos canais de televisão, revisitando as mensagens de WhatsApp pela milésima vez, lendo artigos de notícias, jogando jogos no smartphone que parece agora como o seu melhor amigo, o fiel companheiro electrónico que o salva da saraivada impiedosa de críticas da sua companheira através do desvio de atenção, mas não da sua própria consciência que se pergunta, uma e outra vez, como se resolve este problema para se poder voltar a esquecer dele.
Ele estará a pensar que seria mais fácil se ela lhe apontasse um armário cuja porta tivesse desencaixado para ele consertar, um problema mecânico no automóvel, a atualização do sistema operativo do computador dela, ou qualquer outro problema que implicasse o uso do raciocínio e não das emoções.
Tipicamente, ele perguntará: “E o que queres que eu faça?” ao que a companheira responde incisiva: “Quero que tomes uma atitude! Sinto-me entediada. Não fazes nada para mudar!”
Em outras vezes, o companheiro improvisará uma justificação: “Tenho-me sentido cansado, não quero falar disso agora, amanhã falamos.”, “Tenho estado muito absorvido no trabalho”, “Quem é que achas que paga 60% das contas? Se estou a trabalhar, não te posso estar a dar atenção. És algum bebé que precisa de atenção constante?”
Quando a tática de ignorar a companheira usando o smartphone, a smart tv, um filho ou um animal de estimação não funciona, ou mesmo, a tentativa de uma justificação tosca e genérica, então o companheiro tenderá revidar com críticas de volta:
- “Também não fazes nada para melhorar!”
- “Sou eu que tenho de fazer tudo na relação?”
- “Arranjas problemas onde eles não existem!”
- “Se te sentes entediada, vai fazer crochet, ou vai arranjar algo de útil para fazer, e para de me atormentar o juízo!”
- “Tens falta de problemas realmente sérios na vida para te preocupares, e decidiste passar a aborrecer-me com essas frivolidades para te entreteres, foi?”
O homem, em geral, dá-se melhor com a rotina na vida amorosa, dado que procura a estabilidade emocional, para poder dedicar-se quase, em exclusivo, à parte profissional, e assim, poder realizar-se, realmente, como indivíduo. O desafio é conseguir manter a relação, para não ter de se preocupar com a relação. Estamos perante um paradoxo.
O companheiro, tipicamente, satisfaz-se tão somente em estar num relacionamento. A qualidade não é um factor tão relevante assim e, por consequência, a monotonia ou o tédio, não será para ele, especialmente, a partir dos 30 anos, um factor suficiente para justificar o término de uma relação. Assim, quem normalmente exige mudanças é a companheira.
Com o fito de manter a relação, e sabendo que, raramente, terá alguma hipótese de vencer uma discussão arremessando argumentos racionais para cima de uma companheira completamente surda aos mesmos, especialmente quando ela se encontra receptiva apenas a argumentos emocionais, o companheiro comummente, concordará, superficialmente, com a companheira, na tentativa de ela parar com as cobranças, prometendo mudanças em si mesmo, como se ele estivesse errado e com a culpa, e tivesse de empreender um esforço, no sentido de corrigir o seu erro.
Essa humildade masculina é, naturalmente, ilusória, de forma a provocar um cessar-fogo nas hostilidades entre os domínios de Vénus e Marte. E como tudo o que é ilusório, é temporário.
Essa vitória que ele oferece à companheira é, naturalmente, simulada, e apenas destinada a acalmá-la, enquanto ele, silenciosamente, mantém a esperança de que se trate de um arrufo temporário, que ele tentará calar com atitudes cuidadosamente pensadas para a convencer de que ele mudou uma personalidade que o assiste há uma vida inteira em apenas 1 ou 2 horas de discussão…
Nos dias seguintes, ele chegará mais cedo do trabalho, far-lhe-á o jantar, surpreendendo-a com o seu prato preferido, comprará bombons, lingerie provocante com um número diferente do dela, mas que não a incomodará muito, pois o que conta é a intenção, certo? Poderá abraçá-la por detrás em momentos inusitados no balcão da cozinha, beijá-la de uma forma ardente no elevador do prédio onde moram, buscá-la ao trabalho, surpreendê-la com flores que só oferecia nas primeiras semanas de quando se conheceram…
Usualmente, ao cabo de duas semanas de romance, o companheiro voltará inevitavelmente ao mesmo padrão de sempre – a rotina. Foi custoso ao companheiro simular, durante um período que, regra geral, aguentará duas semanas, um enamoramento próprio dos dois primeiros meses de namoro, apenas com o objetivo da sua companheira ficar satisfeita.
Durante esse período de ausência de genuinidade, o companheiro sofre preocupações constantes como:
- “até quando vou ter de aguentar a simulação de uma paixão que não me assiste mais, apenas para que a minha companheira não tenha mais um ataque de dúvidas sobre se há-de continuar no relacionamento ou não”
- “O esforço que eu faço por esta relação ao fingir um sentimento de paixão que já não tenho, em nome da estabilidade… Nunca serei reconhecido pela minha companheira.”
- “Estou a ser falso em nome do amor. Finjo paixão em nome do amor que sinto por ela. Ela obriga-me a mentir.”
Um sentimento de mágoa contra a companheira começa a emergir no seu coração. Ele sente-se incompreendido e frustrado, porque nunca lhe poderá confessar que, por não sentir mais vontade de a abraçar de forma voluptuosa ou de lhe dirigir elogios como nos primeiros tempos da relação, tal não significa que deixou de a amar.
Ele sente-se um actor que interpretará durante duas semanas, com espírito de sacrifício, a personagem de um apaixonado, e espera que a loba vigilante que anseia em devorar a carne tenra da auto-estima do cordeiro que ele é, deixe de rondar o redil do seu comportamento, para que ele possa respirar de alívio novamente, para que ele possa ter paz de espírito, e possa, por fim, relaxar no terno e doce abraço do sono da autenticidade pessoal.
O problema é que a autenticidade pessoal do companheiro não agrada à companheira. O ressentimento contra si mesmo cresce, sendo somente comparável ao ressentimento que uma mulher tem contra si própria, quando finge um orgasmo, apenas para proteger o ego masculino sensível do companheiro, que não suportaria a verdade, e que poderia pôr fim à relação.
Da mesma forma que algumas mulheres se sentem amedrontadas por contar ao companheiro que elas não sentem o prazer máximo do orgasmo com ele, excepto em noites em que ele esteja particularmente “inspirado”, mas apenas um prazer carnal incipiente, e que os seus companheiros anteriores eram bem melhores que ele, também alguns homens, tremeriam perante o terrífico cenário de contarem à companheira que a amam, mas que não têm prazer algum em cumprir com os odiados clichets que as amigas, a mãe, as revistas superficiais, os filmes e séries da Netflix, as telenovelas e a publicidade dos mais diversos bens e serviços lhe impingem, tais como:
- elogios como “estás muito bonita hoje” ou “gosto do teu casaco novo”
- comprar bombons, flores, lingerie, etc
- oferecer presentes, seja em datas especiais ou não
Após as primeiras duas semanas de enamoramento, onde essas atitudes românticas são naturais e espontâneas, e a companheira não tem necessidade de lembrar ao companheiro a carência delas, pois ele o faz com prazer, ao fim de meses ou anos de relação, naturalmente, que essas práticas começam a soar a falsidade, dentro do companheiro. Nesse momento, a Sombra do companheiro começa a crescer, alimentando-se da repressão, da negação de si próprio, e o grito do Ipiranga teima em não chegar à sua garganta, ansiosa de expressar a personalidade reprimida.
Face à perda de interesse do companheiro, a companheira pode chegar ao cúmulo de pensar que o companheiro é homossexual ou que tem uma outra mulher, e que a está a trair. A insegurança dela aumenta na proporção do descaso do companheiro quando ela partilha as suas preocupações com ele.
A aversão à monotonia no relacionamento por parte da companheira chega a ser tão grande que ela prefere, por vezes, entreter pensamentos estranhos, a aceitar, simplesmente, que a rotina se instalou e que isso faz parte da natureza do ser humano e que não tem de ser necessariamente um problema a resolver, até porque raramente, se resolve, a menos que se experimente uma nova relação, nova relação essa que chegará ao mesmo ponto de rotina que ocorreu nas relações anteriores.
Então, o que acontece para impedir a rotina?
Adversidades
As adversidades que sempre surgem no caminho de um ser humano, ao longo da sua trajectória de vida do berço ao túmulo, acrescentam sal numa relação insossa. Doenças graves como o cancro de um dos companheiros, a doença grave de um filho, um acidente de viação são tipicamente elementos que, apesar de difíceis de digerir, irão trazer condimento à relação, fazendo-a ressurgir com novo brilho. Um inimigo comum sempre une as partes desavindas entre si que rapidamente priorizam a sua união com o objetivo de proteção mútua, e submetem as suas desavenças, diferenças de valores e reinvindicações menores a um plano secundário.
As pessoas sabem que a união faz a força e que um inimigo externo as pode unir mais do que separar. Acontece o mesmo com países. Se a Rússia ameaça a Europa, os países europeus unem-se para lutar contra o inimigo comum. Na 2ª Guerra Mundial, se a Alemanha nazista ameaça os seus vizinhos, até parceiros improváveis como União Soviética e EUA se unem para fazer face à ameaça. A História está repleta de exemplos como estes.
Assim, por curioso que possa parecer, um cancro ou uma adversidade grave que aconteça na vida de um dos companheiros ou na de ambos, fará com que o problema da rotina seja simplesmente ignorado e esquecido, e com que o valor do amor, do apoio incondicional e do companheirismo do casal, os relembrem de que uma relação não se alimenta dos clichets românticos de Hollywood, mas de valores bem mais elevados e profundos.
Tenho observado nos meus atendimentos que muitos casais só se mantiveram por décadas devido aos problemas externos que tiveram de enfrentar, ao passo que outros casais, sem filhos, sem problemas financeiros e de saúde graves, caídos na rotina, se separaram por frivolidades que fariam rir os primeiros.
O egoísmo é natural no ser humano dada a sua ainda incipiente evolução espiritual. A maioria das almas, encarnadas e desencarnadas, são ainda jovens e precisarão de centenas de encarnações como a atual para se libertarem da roda do Samsara e se tornarem Espíritos superiores que passarão a guiar outros espíritos inferiores e abraçarão o valor do altruísmo permanente.
Assim, dado que o egoísmo é natural, as almas sabiamente introduziram desafios no programa de encarnação das mesmas para que elas, no âmbito de um relacionamento amoroso, desenvolvessem a compaixão, contrariando o seu estado atual de natureza egoísta.
Se um casal está junto há 10 anos a enfrentar a rotina do seu relacionamento e a conceber a ideia de se separarem porque acham que já não têm mais o que evoluir juntos, pode ser que todos esses pensamentos de desistência da relação seja abalados um dia, em apenas um minuto, quando um dos companheiros chega do hospital e mostra os resultados dos exames oncológicos que fez, confirmando a presença de um cancro fase 2.
De repente, perante uma urgência de saúde, os casais que estavam presos à monotonia, passam a celebrar a alegria das pequenas coisas da vida como, por exemplo, apanhar sol no parque da cidade, agradecer pela simples presença do outro, ou saborear a frescura de um copo de água num dia quente de Verão. A iminência da morte faz, de repente, relegar as frivolidades e reinvindicações fúteis de romance numa relação desgastada pelo tédio a um plano de quase inexistente importância.
O cancro, nesse caso específico, foi uma bênção que salvou a relação! Caso contrário, ela ruiria em questão de semanas ou meses. Não só o cancro, mas uma doença incurável, um acidente de automóvel grave, a perda de emprego de um membro do casal que passa a fazer com que um companheiro dependa economicamente do outro, ainda que de forma temporária, a carestia de vida para manter o pagamento das prestações de um apartamento numa cidade cara como Lisboa ou Porto, acabam por atuar como factores que obrigam à união do casal e a passar por cima da importância exagerada atribuída à rotina.
Assim, as adversidades são muitas vezes bênçãos disfarçadas para manter a relação. Porque os relacionamentos são importantes para a Alma? Para mitigar o egoísmo humano. Numa relação, a pessoa é obrigada a olhar para lá do seu umbigo. Ela é obrigada a considerar também o umbigo do outro.
Significa isto, no entanto, que apesar de as adversidades se poderem assumir, na realidade, como bênçãos disfarçadas, que os membros de um casal ficarão necessariamente juntos? Claro que não! Nem todos aguentam as adversidades e, dependendo do grau de maturidade, consciência espiritual e sabedoria, os membros menos evoluídos reagirão com um egoísmo ainda mais extremado, em face de situações mais exigentes.
Perante o cenário do anúncio de um cancro no companheiro ou na companheira, o outro membro poderá considerar: “Eu não pedi isto ao Universo! Eu pedi uma relação em que eu não tivesse problemas alguns. Não pedi uma companheira ou um companheiro com cancro. Quando eu iniciei esta relação, o companheiro ou companheira não tinha cancro. Foi em condições favoráveis que eu aceitei este relacionamento. Não estou para isto! Se esta relação fosse um produto, eu iria devolvê-lo à loja, hoje mesmo, apresentando o talão para troca!”
É evidente que, neste último caso, esta relação não é baseada em amor, mas em conveniência social, financeira ou sexual. Da mesma forma, uma adversidade como o cancro num dos companheiros, tanto pode reacender a chama de uma relação que estava a ser apagada vagarosamente pela humidade infiltrante da rotina, como pode afastar os companheiros de vez, se o egoísmo e o comodismo vierem a triunfar, levando ao abandono do mais fraco pelo mais forte.
De qualquer forma, terá sido positivo se considerarmos que a razão de estarmos aqui na Terra para mais uma de muitas encarnações é a evolução e, com certeza, evoluímos mais rapidamente em relacionamentos genuínos e fortes que não sucumbem ao furacão de um cancro, do que em relacionamentos com alicerces fracos, que a mais leve brisa do tédio pode fazer ruir.
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2023
About the Author:
Autor do livro Cura Ascensional - A cura pela Energia das Estrelas. Fundador da Cura Ascensional®, mestre de Reiki Usui Shiki Ryoho, formador dos Cursos de Cura Ascensional®, Reiki Tradicional Nível I, II e III, Kundalini Reiki e Curso de Terapia Multidimensional.