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Mães que superprotegem os filhos

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Por vezes, no meu trabalho como terapeuta, recebo pedidos de mães preocupadas com os seus filhos adultos e respectivas más decisões de vida.

Algumas mães preocupam-se com o facto de os seus filhos adultos estarem em alguma das seguintes situações:

  • têm algum tipo de vício que lhes causa instabilidade na sua vida pessoal, familiar, profissional, social e amorosa ligado ao alcoolismo, tabaco e outras drogas (cocaína, heroína, etc)
  • recorrentemente cometem infidelidade conjugal o que vem a ser do conhecimento, muitas vezes, não apenas da companheira, como também da progenitora que gostaria que o seu filho tivesse estabilidade na sua vida amorosa e familiar
  • são desempregados de longa duração e vivem com a ajuda financeira dos pais
  • não encontram realização profissional nos seus empregos e actividades profissionais
  • são jovens adultos (com idades entre os 18 e os 28 anos) que não querem estudar, nem trabalhar (chamada geração “nem-nem”), mas apenas divertir-se o dia inteiro em jogos de computador, ver televisão, assistir a vídeos no YouTube, consumir conteúdos em serviços de streaming bem como outras formas de entretenimento. Alguns destes jovens estão deprimidos e projectam contra as suas mães comportamentos e palavras agressivas na vã tentativa de sacudirem dos seus ombros a responsabilidade que lhes pesa na consciência pela sua própria vida, deitada a perder em vícios ociosos, sem contribuírem de forma positiva para a sociedade, nem aproveitarem o tempo para se enriquecerem em skills intelectuais, sociais e espirituais, procurando crescer como indivíduos e promover o crescimento dos seus pares. Naturalmente, que vivendo vidas ociosas e desperdiçando seu tempo em futilidades, numerosas oportunidades profissionais, amorosas e sociais serão perdidas como consequência de não terem desenvolvido os skills requeridos para essas mesmas oportunidades, o que só aumentará as suas frustrações, conduzindo também, nos casos mais graves e de longa duração, a problemas psíquicos e distúrbios de personalidade, com quadro de agressividade, depressão, baixa auto-estima, ansiedade social e até tentativas de suicídio.

Compreendendo, com naturalidade, a extensão do sofrimento dessas mães, que assistem impotentes à deterioração da vida dos seus filhos nos mais diversos aspectos, e o seu desejo legítimo de ver os seus infelizes filhos passarem a tomar decisões de melhor qualidade para que possam obter boa colheita, informo-as que todas as terapias energéticas implicam a participação consciente e voluntária da própria pessoa que se submete ao tratamento, a qual deve ser a maior das interessadas na sua própria melhoria, e não os seus familiares e amigos.

Uma pessoa não muda se ela não estiver aberta à mudança e não o desejar, independentemente da terapia usada ou do terapeuta consultado. Se o cliente de uma terapia não estiver verdadeiramente aberto à mudança, a terapia não logrará o sucesso pretendido.

Quando o discípulo está pronto, o mestre aparece

O Bhagavad-gītā ensina que quando o discípulo está preparado, o mestre aparece.  Tal aforismo indiano não poderia estar mais correcto e pode ser, sem sombra de dúvida, aplicado a diversas outras situações, nomeadamente, a cursos, terapias e relacionamentos.

Por vezes, a pessoa pergunta-se: “Porque não descobri esta terapia antes?”, “Porque não descobri este curso antes?”, “Porque não conheci esta pessoa antes, com a qual haveria de iniciar um relacionamento amoroso mais tarde?”, “Porque não encontrei este livro antes, o qual mudaria para sempre a minha forma de pensar e, consequentemente, haveria de mudar a minha vida?”

A razão é tão simplesmente porque a pessoa não estava preparada. Até poderia dar-se o caso de ter estado com tal pessoa antes, a qual iria mudar a sua vida mais tarde, mas, simplesmente, não estava ainda condicionada devidamente para lhe absorver os benefícios desse encontro.

Passa-se, exatamente, a mesma coisa com os filhos de algumas mães que me interpelam, pedindo ajuda para eles sem, no entanto, compreenderem que a verdadeira ajuda vem de dentro dos seus filhos, apenas somente quando eles estiverem preparados.

– “E quando eles estarão preparados?” – tornam essas mães, algumas com ar de aflição, nos olhos amorosos.
– “Não sei, não sou vidente.” – respondo sorrindo, embevecido por esse sublime e nobre sentimento que é o amor de uma mãe por um filho que, apesar de adulto, no coração materno, continua a ser aquele bebé que um dia amamentou e afagou junto de si.

De facto, não tenho resposta para o quando de uma pessoa despertar espiritualmente. Lembro também que não há apenas um despertar, mas vários níveis de despertar da consciência, uma vez que a estrada da evolução espiritual é infinita.

E o que acontece quando os ouvidos dos filhos são moucos ao apelo de suas mães para que melhorem como seres humanos? O inevitável e esperado! Um acidente, um término de relacionamento, uma doença… Essas adversidades podem ser consideradas bênçãos quando observadas de uma perspectiva espiritual superior, pois vão ajudar a lembrar que a vida é fonte de aprendizagem contínua e que a inação da mudança para melhor é, em si mesma, já uma decisão que terá suas consequências inevitáveis. A Lei de Causalidade é veículo de aprendizado que não se detém jamais, nem se deixa atrasar pelo choro daqueles que amam.

Quando o cliente estiver preparado, ele pesquisará pelos seus próprios meios e será o próprio, humildemente, a pedir ajuda a um terapeuta, médium, psicólogo ou organização que preste assistência (terreiro de Umbanda, Templo do Vale do Amanhecer, Centro Espírita, Fraternidade Fiat Lux, uma igreja evangélica, um grupo de apoio, uma comunidade espiritual e/ou religiosa, a sua turma de Yoga, a sua turma de Meditação, um templo hindu, um mosteiro budista ou outro), no sentido de o aconselhar sobre os valores que necessita rever, a pesquisa pessoal sobre os seus sistemas de crenças, as suas reais prioridades na sua vida, os seus dons e capacidades, a razão da existência do ser humano e sobre Deus acima de tudo.

Toda a informação está disponível na internet. As pesquisas que uma pessoa faz no Google vão de acordo com os interesses  particulares de cada um e seu respectivo grau de consciência. Hoje em dia ninguém se pode queixar que não sabe onde encontrar o que procura. Se a pessoa sabe usar o Google para procurar o restaurante italiano mais próximo, com certeza terá também capacidade intelectual para digitar na caixa de pesquisa “ajuda espiritual para depressão”, “terapia para ansiedade” ou “como aumentar auto-confiança e auto-estima”.

Até que determinados eventos de vida mudem a forma de um ser humano de pensar, de se comportar e de agir no sentido de se melhorar interiormente e começar a estudar-se a si mesmo, a procurar compreender as razões primordiais da sua própria existência, ele não irá empreender uma busca nesse sentido. E esses eventos podem, naturalmente, ser algumas adversidades já referidas acima, adversidades essas que essas mães pretendem evitar. Elas não percebem ou não querem aceitar que não está nas mãos delas evitarem as adversidades que seus filhos imprevidentes atrairão sobre si mesmos, ao continuarem a tomar certas decisões que lhes são nocivas, como é exemplo, o vício. O vício é sempre uma forma de fuga de si mesmo, uma forma prazeirosa de fuga à responsabilidade que a consciência cobra sobre a própria vida.

Essas mães temem que a vida seja dura para seus desventurados filhos, quando eles é que estão endurecidos nas suas velhas formas de pensar que, no devido tempo, quebrarão como nozes, ao ritmo das adversidades que, inexoravelmente, atrairão para amolecer seus corações humanos e se tornarem o verdadeiro orgulho de suas mães.

Não se dará, porventura, o caso de serem essas mães que necessitam de evoluir e despertar também? Não será o caso de elas estarem a projectar parte da ignorância da dimensão espiritual de si mesmas, na figura de seus filhos?

Todos têm um momento de despertar consciencial, o qual acontece em diferentes momentos para cada pessoa. Em algumas pessoas é no início da vida adulta, noutras no meio, noutras na terceira idade ou mais tarde até, e há ainda outras que, nesta encarnação actual, não despertarão. Talvez despertem no plano astral, após o seu desencarne ou, até mesmo, numa futura reencarnação.

Essas mães necessitam de estudar os ensinamentos espirituais para compreenderem melhor a realidade da própria vida humana e alcançarem a paz que só se consegue com o entendimento dos princípios e leis que governam o Universo e os eventos da vida humana. Talvez tenham de ler uns 10 ou 15 livros de autores de desenvolvimento espiritual como Deepak Chopra, Eckart Tolle, Wayne Dyer, Thomas Moore, Neale Donald Walsh, assistir umas 50 palestras de desenvolvimento pessoal e espiritual no YouTube, frequentar uns 10 ou 15 cursos na área, demorar alguns anos a processar toda a informação para, finalmente, a ajustar a um todo lógico e funcional.

No final, estarão em paz, mesmo que os seus filhos não estejam, pois terão compreendido que não podem forçar o progresso espiritual de ninguém, incluindo os espíritos que, na encarnação actual destas mães, uma de 100 ou 200 já vividas anteriormente, interpretam a personagem secundária de seus filhos na novela onde elas ocupam o papel de protagonistas.

Para além disso, há também a considerar o karma que estas mães podem ter em relação aos seus filhos, karma esse contraído em vidas passadas. Talvez elas os tenham abandonado em 1310, sido o juiz do tribunal de Santo Ofício em 1630 em Espanha que os condenou injustamente à forca, sido aquele irmão que em 230 A.C tomou a herança do seu irmão mais novo, agora seu filho na encarnação actual… Quantos débitos kármicos não poderão ter essas mães na vida actual para resgatar em relação a seus filhos agora desencaminhados? No entanto, evidentemente, nem todas as mães terão débitos kármicos a serem resgatados em relação a seus filhos. Tal generalização seria forçosamente um erro injusto. Cada caso é um caso. Cada mãe deve explorar a sua espiritualidade para se compreender melhor. Poderiam começar por uma consulta de Astrologia e durante a consulta pedir ao astrólogo para salientar a relação com os filhos, para identificar desafios, por exemplo… Poderiam fazer algumas sessões de Constelações Familiares… Poderiam fazer uma consulta de Sinastria de relacionamento para identificar arestas a limar na relação com eles. Em suma, em vez de essas mães pedirem ajuda a um terapeuta para desenvolver filhos que não estão ainda preparados, na maior parte das vezes, para iniciar um caminho de auto-conhecimento com um terapeuta, deveriam elas próprias começar a trilhar o seu próprio caminho na Espiritualidade, para assim servirem de exemplo vivo para eles.

A melhor forma dessas mães ajudarem os seus filhos com o desenvolvimento da Espiritualidade, é elas próprias iniciarem o seu caminho.

Enganam-se aquelas mães que pensam que uma ou duas sessões de terapia será o suficiente para mudar o carácter dos seus filhos… A solução para muitos dos seus filhos passa por um longo caminho que pode demorar anos de auto-conhecimento, tomada de consciência de crenças erróneas que não servem mais ao seu Bem Supremo, questionar o que lhes foi passado pela cultura da sociedade em que se inserem, pelos grupos de amigos, pela cultura da empresa onde estão, tomar consciência que são espíritos imortais que ocupam corpos humanos temporários e que terão de prestar conta de cada sentimento, pensamento, palavra, acto e omissão positivo e negativo, não só durante a vida actual, como também no plano astral quando desencarnarem, e nas vidas seguintes quando retornarem ao plano físico em novos vasilhames humanos de carne, sangue e ossos, para dar continuidade à longa caminhada da Alma.

Ao longo desses anos, ainda terão de suportar catarses emocionais que correspondem a libertação de material do subconsciente que reprimiram durante anos ou décadas e que, finalmente, está pronto para ser libertado, raras vezes de forma prazeirosa. Terão também de adequar os seus valores e tomar imensas decisões as quais. sem a ajuda do terapeuta a dar suporte emocional. se tornariam bastante difíceis de tomar e, acima de tudo, manter a consciência de que é inteiramente responsável pela sua vida, evitando projectar nos outros à sua volta, uma responsabilidade que somente ao próprio assiste, ainda que ele se permita influenciar por determinados actores, é ele quem decide em última análise que sugestões e recomendações seguir.

Para quem assiste de fora, tudo o que pode fazer é orar por essa pessoa sua familiar ou amiga, e fazer o seu próprio trabalho de evolução.

Ao fazer o seu próprio trabalho de evolução, começará a respeitar as decisões e hábitos dessa pessoa, ainda que não concorde com os mesmos, ainda que considere que os mesmos não são saudáveis e que o vão penalizar no futuro. Há que não esquecer que essa pessoa é soberana em suas próprias decisões e tem esse direito. No entanto, como se costuma dizer, “a semeadura é opcional, mas a colheita é obrigatória”.

A colheita (karma) é sempre o nosso melhor professor, pois reconhecemos a semente pelo fruto e assim aprendemos usando de empirismo – onde a experiência me ensina, do racionalismo – com a razão interpreto os resultados das minhas acções e, finalmente, a intuição lembra-me de lições aprendidas em vidas passadas (guardadas no corpo mental superior, chamado corpo causal) bem como das recomendações do guia.

Tratando-se de um adulto consciente, tudo o que pode fazer é orar por ele e oferecer-lhe ajuda quando ele, de forma humilde, a solicitar. Deve também distinguir entre aquilo que está ao seu alcance e aquilo que, efectivamente, não está. Se a mãe não fizer essa distinção, sofrerá o aguilhão da frustração que logo lhe advirá, e cedo aprenderá a distinguir, evitando errar no futuro. A mãe não deverá confundir sobreproteção de um filho adulto consciente com amor. Se o ama, faça como Deus faz com cada um de nós, seus filhos. Dê-lhe livre arbítrio e deixe-o colher as consequências, aprendendo com elas!

A mãe não pode proteger o filho adulto como se tratasse de um bebé ou criança de colo. A única pessoa que o pode proteger dele, é ele mesmo e vai depender do nível de consciência do espírito dele.

Deve ser o próprio filho a telefonar para o terapeuta e não a mãe. Ele deverá estar preparado para abordar as suas preocupações, entrar em contacto com as suas emoções na presença compreensiva do terapeuta, em ambiente seguro, onde terá oportunidade de se confrontar com as suas sombras.

Se o cliente não abrir mão do orgulho, decidindo manter, por conseguinte, uma atitude de desafio ou descrença e relação ao trabalho do terapeuta que o está a ajudar, não está preparado ainda para fazer trabalho consigo mesmo. Nesses casos, a vida se encarregará de ser a sua terapeuta. As sessões de terapia promovidas pela própria vida são demoradas, gratuitas e mais eficazes, porém, tradicionalmente, mais dolorosas que as sessões promovidas por um terapeuta holístico.

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